segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sonhando



Na minha infância sonhava acordado, deitado antes de dormir ou na companhia das minhas primas, sonhava com um futuro bom. Por horas eu rascunhava onde estaria 10 anos após aquele momento. Perdia-me nos meus pensamentos e adormecia...
Sonhava que seria um adulto bom, as pessoas poderiam confiar em mim, contar suas confidencias e ter a mim como um grande amigo, ouvinte e conselheiro. Sonhava fazer o bem sem me preocupar com a reciprocidade alheia, fazendo pura e simplesmente pelo prazer de ajudar. Sonhei que seria um adulto trabalhador, que ninguém naquela empresa seria capaz de me substituir, que meus patrões fariam questão de ter a minha presença todos os dias, porém, sem pressão, sem regras e com metas que eu estabeleceria. Esse mesmo emprego me proporcionaria que num dia qualquer abrisse meus olhos e dissesse a minha esposa (sim eu teria uma esposa) "hoje não vamos trabalhar, vamos a praia ou a qualquer outro lugar, pois hoje teremos um dia feliz!". 
Sonhei que teria minha própria casa, com meu jeito de organizar, com todos os meus instrumentos musicais a disposição e opção de escolha para o que eu gostaria de fazer. Uma casa que supria todas as minhas necessidades, reconfortante e aconchegante, onde eu poderia compor musicas sobre essa casa e seria o melhor lugar do mundo.
Sonhei que tinha a mais bela esposa do mundo, carinhosa e amável, amante das pequenas coisas do mundo, apreciadora da natureza, da cultura e da educação. Com o sorriso mais belo e os olhos mais brilhantes, de cintura fina e corpo alto, de mãos delicadas e seios fartos, de escrita profunda e sentimento transbordante. Era ao lado dela que prosseguiria não mais sonhando, mas sim desfrutando de tudo.

E sabe qual foi a melhor parte desse sonho? Foi acordar e ver que tudo isso estava aqui a minha disposição!

terça-feira, 5 de junho de 2012

A cigarra



A Cigarra tornou-se pra mim a representação de amor. Todas as noites, solitária em qualquer jardim ou praça ela canta, certamente canta por um amor, um amor que por noites não aparece, persistente ela volta todas as noites e repete a sua cantiga.
Pros falsos amadores parece um cri-cri-cri sem fim, mas a Cigarra canta a canção que só ela e seu amor entenderão e depois de muito ouvi-la consigo imaginar o que ela diz: "Oh meu grande amor, espero por ti aqui, e aqui permanecerei por toda a minha vida, a ti são dedicados meus versos e rimas. E mesmo pobre, cada uma dessas declarações é a ti e somente a ti..."
Sim, sem a menor sombra de duvidas é isso que a pobre Cigarra recita todos os dias, mas o seu amor? As confusões do amor que só cada casal é capaz de entender. As complicações do coração, as motivações, as brigas e desentendimentos, o caos que dois seres conseguem formar dentro de um mundo de apenas dois habitantes.
Mas é esse mesmo amor que motiva, mesmo parecendo uma tentativa em vão que a Cigarra persista na sua cantoria, no seu chamado musical, na sua invocação lirica. E canta, canta cada dia com mais força, cada noite mais alto. E nessa tentativa cada vez mais desesperada canta com tanta força e seu próprio corpo explode de tanta pressão...
Coitado do seu grande amor, tanto brincou, tanto custou, tanto não ouviu que se deparou com a cigarra aos pedaços espalhados no meu jardim... Mesmo triste a nova viúva do jardim escuro canta lamentações, e fará isso dia após dia até conseguir repetir a façanha da Cigarra e quem sabe se encontrarem num sonho onde suas cantigas podem ser repetidas como canções motivacionais pra outros casais que não querem ouvir um ao outro.


Conta a lenda que as cigarras cantam até a hora da sua morte, forçam a canção ao ponto de se explodirem...

sábado, 2 de junho de 2012

Paisagem



Ilumina-se mesmo sendo noite, as arvores já balançavam junto ao vento. O vendo agora toca meu rosto como uma caricia a quem se ama, tocando o chão com os pés levemente, eu consigo fazer meus primeiros passos.
A lua surgiu singela e envergonhada, ela provavelmente sabe do que se esconde, sorri mostrando-se alegre com o que anda acontecendo na minha vida. 
O vento não só me acompanha, ele resenha a estrada, rabisca o chão, move as pedras e limpa a estrada, ele se faz ajudante de alguém que a muito procura ver a estrada.
A lua roubou o amarelo do sol e ilumina a noite como se fosse senhora do dia, o céu que já azul por muito tempo, faz-se negro perante a luz da lua. O verde das arvores se misturam ao azul do céu, e a lua que vaidosa vai se esconder atras de algumas folhas transformando o seu amarelo em um quase laranja.
Eu vejo todos essas cores brilhando no seu olho, que deixa cada tom mais escuro pra se tornar perdido perante teu sorriso. Pintura cintilante desenhada no castanho dos teus olhos que protagonizam a cena com tua clara e larga boca, formando a mais bela imagem sobre o seu rosto suave e feliz.
A saia mesmo branca se faz transparente me deixando enxergar por baixo dela o biquíni lilás, que brilha com  a intensidade das luzes de uma festa. Sentada sobre a areia vermelha, tua pele parece se camuflar, as vezes pelos raios que tomou do sol, as vezes pelo sorriso envergonhando quando bobo ovaciono sua beleza inigualável.
Muitas cores dançaram nos últimos dias nos meus olhos, muitos aromas, muitas paisagens, muitos momentos, mas a natureza que me perdoe, a obra mais bela de todas foi a de mim mesmo sorrindo dentro dos teus olhos.